Para começar gostaríamos de dizer que é uma honra enorme para o Site Hot Kengas entrevistar ninguém mais, ninguém menos que Ingo Hoffmann, o maior piloto de todos os tempos da Stock Car, a categoria mais importante do Automobilismo Brasileiro de Competição.

Nestes 40 anos de Stock Car ninguém representou ou personificou tão bem esta categoria, e a partir de agora vamos conhecer um pouco da história e trajetória do “Alemão” na Stock Car e as suas impressões sobre o automobilismo de competição nos dias de hoje…

Vamos a Entrevista.

1 – HK – Ingo Hoffmann quando e onde você nasceu? Onde você passou a sua infância? Você chegou a se formar, ou interrompeu os estudos por causa do automobilismo?

R – Nasci em SP no dia 28/02/1953. Comecei  à fazer  Faculdade de Adm. De Empresas, mas parei por causa das corridas.

2 – HK – Como aconteceu o automobilismo na sua vida? Quem te ofereceu a primeira oportunidade de pilotar um carro? Qual foi o carro e quando e onde foi?

R – Desde muito pequeno já era apaixonado por carros de corrida. Eu fui atrás, porque ninguém me ofereceu nenhuma oportunidade. Estreei em 1972 no Festival do Rondo em Interlagos, com meu Fusca 1.500

3 – HK – Você é o primeiro piloto da sua família? Tem outros Pilotos na sua família? Quem foi a sua maior inspiração dentro do automobilismo?

R – Fui o primeiro e único de minha família. Tive muitos idosos quando era jovem, tais como os irmãos Fittipaldi, Jose Carlos Pace, Luis Pereira Bueno, Bird Clemente e muitos outros.

4 – HK – Como foi participar em 2 temporadas na Fórmula 1? O convite partiu de quem? Porque na sua opinião ficou tão pouco tempo? Você não teve outras oportunidades na categoria? 

R – O convite partiu do Wilson Fittipaldi, depois de dois testes que fiz em Silverstone em 1975, onde andei muito bem.  Minhas participações foram bastante curtas na F1, só larguei efetivamente em 3 corridas, porque a equipe passava por problemas de falta de competitividade, e os esforços todos eram feitos no carro do Emerson que era o piloto experiente . Nunca tive outras oportunidades na categoria.

5 – HK – O que você fez entre a sua saída da Formula 1 e a entrada na Stock Car?

R – Nunca parei, porque paralelamente a F1 nos anos de 76, 77, e 78 participei do Campeonato Europeu de F2.

6 – HK – Você sem dúvidas nenhuma é o maior piloto de todos os tempos da Stock Car Brasileira, o que você acha que contribuiu para uma carreira tão sólida?

R – A paixão em pilotar, que acabou se transformando no meu trabalho. E como todos nós temos que trabalhar para sustentar uma família de 3 filhos, corri e trabalhei por muito tempo.

7 – HK – Quais eram as suas características e habilidades mais importantes como piloto?  

R – Eu nasci com talento para pilotar, e junto a Isso, sempre fui muito frio e calculista dentro de um carro de corridas.

8 – HK – Qual foi o melhor carro que você pilotou na sua carreira e porque? 

R – Não existe “O” melhor, porque como corri por 37 anos, acompanhei a evolução dos carros nesses anos todos. Não da para comparar um carro dos anos 70, com os carros de agora.

9 – HK – Existe uma máxima no automobilismo de competição que alguns rivais fazem com que você tire o melhor de si, e acentue o sentimento de competitividade até dos melhores pilotos, quem foi ou foram os seus maiores rivais dentro da Stock Car? 

R – Na Stock Car, foram o Paulo Gomes, e o Chico Serra.

10 – HK – Fale sobre o seu maior rival nas pistas de todos os tempos? 

R – Em termos de disputa limpa, um piloto respeitando o outro, era o Chico Serra, com o qual tive fantásticas disputas na Stock Car. Agora em termos de disputas que incluíam toques e batidas, era o Paulo Gomes.

11 – HK – Você foi um piloto interminável, o que colaborou para que corresse por tanto tempo? 

R – A paixão e a necessidade de “trabalhar”

12 – HK – Qual é a pista que você mais se sentiu em casa e gostou de correr e porque? 

R – São diversas. A mais desafiadora sem a menor sombra de duvidas, é a pista de Nurbürgring na Alemanha. Em termos de gostar, era a do antigo autódromo Interlagos com de 8 km .

13 – HK – Você correu nos anos românticos do automobilismo brasileiro e acompanhou muito de perto a evolução deste automobilismo, principalmente na Stock Car, qual a sua percepção da sua trajetória relacionada com o automobilismo brasileiro de maneira geral? 

R – Difícil para mim falar disso, mas acho que dentro da Stock Car tive um papel importante, não só em razão do que conquistei, mas principalmente em termos de junto com outros pilotos termos perpetuado a categoria aos níveis em que ela esta hoje em dia.

14 – HK – Quem deu a você o apelido de “O Alemão”? 

R – Não sei bem, mas obviamente  em razão da minha cara, do nome e pelo fato da falar alemão também.

15 – HK – Você ganhou inacreditáveis 12 campeonatos e com 3 carros diferentes você se considera muito melhor que os outros pilotos que você competiu? O que contribuiu para que você ganhasse todos estes campeonatos e superasse rivais tão bons em cada uma das épocas que você foi campeão?

R – De maneira nenhuma me considero melhor que ninguém. Atribuo esses Campeonatos, as grandes equipes com que trabalhei  nesses anos todos.

16 – HK – A pouquíssimo tempo entrevistamos Richard Lee Petty, The King, A Lenda viva da Nascar de todos os tempos, O que você sabe sobre a história dele, e qual a sua opinião sobre The King?

R – Como todo apaixonado por carros de corrida, sei que ele foi um grande piloto da Nascar Americana, e que ganhou diversos campeonatos. Acho que ele merece ser chamado de The King.

17 – HK – Guardadas as devidas proporções, a sua carreira na Stock Car Brasileira se assemelha muito a carreira do Richard Petty na Nascar, ele foi o maior nos EUA e você foi o melhor no Brasil, o que você pensa sobre esta afirmação nossa? 

R – Fico lisonjeado.

18 – HK – Uma curiosidade do Hot Kengas é saber se você chegou a ser convidado ou tentou correr na Nascar? Se você tivesse participado desta categoria acha que poderia ter tido o sucesso que teve Stock Car Brasileira? 

R – Nunca fui convidado. Quanto à saber se poderia ter feito sucesso, acredito que não, porque é, ou pelo menos era, uma categoria muito fechada e muito regional dos EUA, onde os pilotos vem de outra escola de pilotagem, em ovais,  Dirt Track etc. coisas com as quais nunca tive contato.

19 – HK – Ingo Hoffmann você correu 30 anos na Stock Car Brasileira, Foi campeão 12 Vezes com 3 carros diferentes, ganhou 70 corridas, fez 60 Pole Positions, estes são números irrepreensíveis, na sua opinião faltou alguma coisa na sua carreira, você teve alguma frustração, foi tudo perfeito, o que você pode nos dizer sobre tudo isso?   

R – De fato acho que não me faltou nada na carreira. Obviamente todos temos frustrações na vida em geral e no trabalho, mas nada que tenha me deixado frustrado. Sempre coisas temporárias.

20 – HK – Atualmente nós não temos nenhum piloto na Fórmula 1 categoria principal do automobilismo mundial de competição, O que você pode falar sobre esta situação?

R – Acho que vai demorar muito tempo, isso se acontecer novamente do Brasil ter um campeão mundial na F1. Porque independentemente de ser muito difícil e caro chegar lá, tem que se estar em uma das duas ou três equipes que dominam a categoria, e nenhum piloto brasileiro esta nesta lista, infelizmente.

21 – HK – No passado tivemos uma geração com vários pilotos sensacionais, Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna somente para citar os campeões, sabendo que tivemos vários outros pilotos muito bons em várias categorias, traçando uma relação com o futebol, os campos de várzea quase que acabaram o que dificultou a pratica fora dos clubes, o que você acha que aconteceu com os nossos pilotos, estamos em uma geração ruim, qual é a sua opinião? 

R – Na minha opinião, a safra de pilotos não diminuiu, eles estão por ai. O que acontece é que como já falei, esta cada vez mais caro o Automobilismo, as categorias de acesso a F1 são muito caras, e o não existe apoio para tanto. Os pilotos cada vez mais sabem disso, e vão trilhar seus caminhos em outras categorias, como a Formula E, as diversas categorias nos EUA, e assim por diante. 

22 – HK – Qual a sua opinião sobre o automobilismo Brasileiro e o mundial nos dias de hoje? Organização, Dirigentes, Autódromos, Pilotos…

R – No Brasil na realidade somente temos duas categorias fortes, a Stock Car e a Formula Truck . De resto são sempre categorias regionais, sendo que todas elas tem promotores independentes, e consequentemente muito bem organizadas. Por parte dos dirigentes não temos nada em termos de organizarem ou promoverem qualquer categoria.  Cada vez temos menos Autódromos, à altura da Stock Car, por exemplo. Temos o Velocitta, que é sem a menor sombra de duvidas o melhor Autódromo na atualidade no Brasil, que é um Autódromo particular.

23 – HK – Quem é o melhor piloto da atualidade? E este é o mais Talentoso?  

R – Muito ampla essa pergunta. No Brasil temos pelo menos uns 15 pilotos excelentes, e obviamente todos com muito talento. Na F1, o Hamilton é muito bom, mas também porque ele esta dirigindo o melhor carro. Os carros hoje na F1 são de fundamental importância.

24 – HK – Como foi ajudar a escrever sua biografia “Histórias que eu vivi” escrita pelo Jornalista Tiago Mendonça, ficou do jeito que você queria, faltou alguma coisa que você queria ter contado?

R – De principio eu não tinha interesse em escrever um livro sobre minha carreira, mas ai fui convencido por um amigo apaixonado por corridas como eu, que me disse que eu precisava contar minhas historias, porque o dia que eu morrer, elas iriam comigo. Ai o Tiago me procurou, acertemos e começamos. Eu ia relatando fatos de minha carreira, e ele foi escrevendo.  Minha filha Ligia, ajudou com historias da família, e no final acabei gostando.

25 – HK – Como esta a sua vida hoje, o que você anda fazendo, quais os planos para o futuro???

R – Hoje em dia, estou mais curtindo as filhas e os netos. Viajando bastante de moto, que é uma paixão que tenho, e sem muitos planos para futuro, fora curtir a família.

26 – HK – Além de Automobilismo em geral, um dos focos do nosso site é o Colecionismo Diecast de Miniaturas de Carros, O HK gostaria de saber se em algum momento da sua vida colecionou miniaturas de carros? Se sim qual foi ou é o seu foco dentro do colecionismo?

R – Como todas as crianças, eu também tinha uma pequena coleção, mas honestamente nunca foi meu interesse.

UM POUCO DA HISTÓRIA DE INGO HOFFMANN

Ingo Ott Hoffmaan, nasceu em São Paulo no dia 28 de Fevereiro de 1953, foi um automobilista brasileiro, Hoffmann competiu na Fórmula 1 pela esquipe Coopesucar-Fittipaldi por 6 corridas, conseguindo largar em 3 delas mas não pontuou.

Ele é o maior campeão da história do Campeonato Brasileiro de Stock car, com inacreditáveis 12 títulos, os 12 títulos foram nos anos de 1980, 1985, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1996, 1998 e 2002, sendo também dono do maior número de títulos seguidos, em um total de 6. Correu na Stock Car desde o seu início em 1979 e a temporada de 2008 foi a sua temporada de despedida. Com isso é um dos pilotos que mais temporadas participou na Stock car (30 Temporadas em 30 Anos de Stock Car).

Seu carro em 2008 era o número 17, da equipe AMG, modelo Mitsubishi Lancer. Foi campeão com os carros Opala, Ômega e Vectra.

Em 2008 ele disputou a Brasil GT3 Championship, correndo em um Lamborghini Gallardo, junto com Paulo Bonifácio. A Dupla terminou a competição na oitava posição, com 44 pontos, conseguindo uma vitória e cinco pódios.

Ao final do ano de 2008, após 30 anos de Stock car e 12 títulos na categoria, Ingo Hoffmann se aposentou das corridas, obtendo em sua última corrida na Stock Car o 3º Lugar no GP de Interlagos, vencido pelo piloto Thiago Camilo, e que consagrou como campeão da temporada o piloto Ricardo Mauricio e como vice o paulista Marcos Gomes.

Ingo recebeu diversas homenagens por todas as suas conquistas na Stock car, em uma delas recebeu de presente o Opala com o qual foi campeão pela primeira vez na Stock car em 1980, totalmente reformado nos boxes de de Interlagos no fim de semana de sua última corrida e sem que ele soubesse. A Surpresa foi feita por seu então parceiro, o paranaense Lico Kaesemodel, a quem ele tem como um filho.

Em março de 2014, Ingo Hoffmann lançou a sua biografia autorizada, assinada pelo Jornalista Tiago Mendonça.

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